Quem me conhece um pouquinho sabe que eu estou
longe de ser uma pessoa alegre, amante da vida. Passa longe de mim essa coisa
de positividade, de achar o lado bom de tudo que acontece. Não é à toa que, com
esse humor obscuro, me sobrem poucas companhias.
Eu lembro de muito pequena ter crises de choro,
de me sentir sozinha, de me achar estranha.
Veio a adolescência e essa idéia de
que havia algo muito errado comigo se consolidou quando eu tive uma
paralisia facial. Acho que foi nesse momento que se instalou meu caos
psicológico.
Aliás, não acho, tenho certeza que desde então eu nunca mais tive
forças, tão pouco alicerce familiar pra superar essa dor e manter minha auto confiança e amor próprio. Depois dos treze anos todas as minhas
memórias são, de certa forma, tristes.
Hoje, aos trinta, eu choro em todo
aniversário e ano novo porque nunca encontrei um motivo que realmente me entusiasmasse a viver.
Achei que poderia ser a medicina,
que fui cursar mais tarde do que o padrão da idade de um calouro, mas
estava errada. Também achei que seria uma família que formaria com alguém que
amava, de novo errada.
Sempre fico pensando que se não há esse fogo de viver,
se não consigo achar um caminho que me faça feliz, não há qualquer razão pra
continuar aqui. E nesses momentos de angústia eu penso em mil
maneiras de acabar com essa existência inútil.
Só penso, porque a covardia não
me permite pular do décimo primeiro andar. A culpa me impede. O peso de deixar
pra trás pessoas que vão se culpar pelo meu insucesso não me deixa. E aí eu
começo a sonhar com o que eu nunca vou ser, com o que eu nunca vou ter.
Sonho
que fui criada num lar de amor, que mãe, pai e avós mantinham um relacionamento
saudável. Sonho não ser tão baixinha, tão estranha, sonho sorrir sem sequelas
da maldita paralisia. Sonho em ter muitos amigos, um amor de verdade. Sonho que
meu crm já está nas minhas mãos, que eu nunca escorreguei em dp, que eu nunca
demorei pra entrar na faculdade. Sonho em ser competente em tudo. Sonho, sonho
e sonho e fico com a certeza de que eu só seria feliz se pudesse mudar tudo
isso.
E eu não posso mudar praticamente nada, não é? Eu tenho que me aceitar,
não é??
Pois bem, até hoje não consegui. Continuo
achando que estou nessa vida gastando oxigênio, ocupando espaço, ainda que
pouco.
Hoje foi mais um dia desses, de desejos de
mudanças impossíveis, até ficar sabendo de algo que me fez pensar que eu posso
estar muito enganada.
Vi alguém que tinha tudo que eu queria ter, que
era como eu queria ser e que desistiu de estar aqui.
Então será que se eu fosse
a camila que tanto idealizo seria feliz?
Será mesmo que em condições diferentes eu
dormiria agradecendo pelo meu dia e esperando acordar na manhã seguinte?
Já não sei de mais nada.
A vida é mesmo uma piada suja de humor negro.
Daquelas bem sujas, daquelas bem negras.
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