Me peguei lembrando que
no ano passado fui numa feira de pesca com o falecido. Eu, que
detesto pescaria, que entendo de varas e molinetes tanto quanto ele
entendia de cores de esmalte, passei um sábado inteiro,
inteirinho, em uma FEIRA DE PESCA!!! E olhava entendiada aquele mar
de linhas e acessórios, enquanto ele tinha orgasmos múltiplos
com toda aquela geringonça.
Estávamos em
início de romance. E ele ficou tão feliz de eu aceitar
o convite e acompanhá-lo, que foi daquele dia em diante que a
coisa engrenou. Não esqueço o SMS do dia seguinte,
dizendo o quanto tinha sido bom minha companhia. Eu sorri satisfeita
e quase respondi: “Ahh, eu também adorei, só-que-não”
(no fim tirei o só-que-não e mandei).
Então comecei a
contabilizar quanta coisa já fiz sem querer, sem gostar, sem
ter vontade, em prol de um “amor”. Algumas foram positivas,
confesso. Por exemplo, já fui em show de banda que não
gostava e passei a amar. Mas também já fui em show de
banda que não gostava e detestei mais ainda. Já topei
programas que não tava afim. Já engoli amigo babaca. Já
deixei pra lá quando o nego (e foi mais de um que já
aprontou dessas) bebeu a tarde inteira com os amigos e dormiu (ou
disse que dormiu) e me largou esperando. Já arrumei a vida
financeira de cabra. Já achei casa procidadão alugar
pra morar.
Você vai dizer
que o que importa é fazer de coração e agradar
quem está ao seu lado. E eu concordo. Tudo que fiz foi de
coração. Inclusive ceder e fazer o programa que o outro
curte. Mas, na real, olhando pra trás (e não tão
lá atrás assim), acho que fui mesmo é uma
otária.
Fiz porque quis. Porque
estava apaixonada. Porque que sou parceira. Porque sou legal pra
caralho. Mas fiz mais porque sou uma idiota (e uma idiota dedicada),
acima de tudo.
E digo isso porque
comecei a pensar O QUE esses mesmos cidadãos fizeram de tanto
por mim. O quanto aturaram meus programas ou procuraram fazer minhas
vontades, meus gostos. O quanto se importavam com o que eu queria e
sentia. E lembrei, com tristeza, que não estou com nenhum
deles até hoje porque sou perita em escolher homem egoísta.
Afinal, me achar
maravilhosa por aturar um dia chato pra caramba na feira de pesca é
fácil. Difícil é ir na festa junina com minha
família e esperar comigo meu sobrinho ir no brinquedo. Difícil
é trocar a lâmpada queimada na minha casa. Difícil
é pegar a estrada e vir me ver em Indaiatuba. Difícil é
deixar o churrasco, uma vez que seja, pra ficar comigo.
Não vou ser
injusta, eles até fizeram por mim. Mas eu sempre fiz antes e
SEMPRE fiz mais. Muito mais. Tapada. Sou uma tapada do amor.
Me dedico demais. Me
doo demais. Me ferro demais. E me pergunto, será que sou a
única mulher assim ou é da raça mesmo?
Mas dizem que abrir os
olhos e se conscientizar é o primeiro passo da mudança.
E eu, que sempre me amei muito e soube meu valor, agora vou aprender
a ser um pouco egoísta também. EU venho antes. O que eu
quero e o que eu gosto. Acho que envelhecer é isso: aprender a
SE fazer feliz primeiro.
E esse tipo de decisão
não é pra ter um relacionamento melhor com o sexo
oposto. Não, não. Essa decisão na verdade é
crucial pra ter um bom relacionamento consigo mesma. Uma relação
de paz de espírito e respeito com as minhas vontades.
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