Sabe quando alguém não tá afim de falar com você e dá a desculpa esfarrapada que tá só sem tempo e que a vida dela tá uma correria? Pois é, no meu caso é a mais pura verdade.
Nos últimos dias tenho corrido desde o segundo que abro o olho até o momento que tenho a oportunidade de encostar minha cabeça no travesseiro pra dormir. Me sinto personagem de um vídeo-game, daqueles joguinhos de aventura. Run, Tati, Run.
E quando eu me deito e consigo aproveitar o silêncio do meu quarto eu, de fato, durmo. Durmo, primeiro porque estou pregada e segundo porque é nesse momento que tenho tempo de pensar, e eu não quero fazê-lo.
Eu gostaria de ter metade da coragem que bato no peito estufado e finjo ter. Mas, na verdade, pra assuntos particulares, pra decisões da minha própria vida, sou uma tremenda duma covarde. Dessas que dorme, porque só de pensar no problema pessoal que tem que resolver sente o coração se espremer e afundar no peito. O simples pensamento de “Ok, vou refletir sobre o que preciso dizer e como vou dizer”, já me faz desistir. Dá vertigem, dor de barriga, pernas bambas. O oxigênio some do ar e o pouco que sobra fica pesado demais pra se respirar. Juro que imagino luzes vermelhas girando e até escuto o alarme de incêndio tocando. Pânico, isso é pânico. Melhor dormir rápido.
Acontece que eu tenho uma DRfobia. Tudo que eu preciso discutir seriamente, pra resolver um assunto pendente na minha vida, me dá pânico.
E eu sou capaz de entrar nas maiores bocadas pra fazer uma reportagem e de comprar brigas homéricas pra defender quem eu amo. Minha chefe diz até que eu seria uma ótima advogada. Desafio, enfrento, discuto e defendo. Visto meu tênis e corro uma maratona quando o assunto é trabalho, família ou amigos. Desço do carro e enfio o dedo na cara do caminhoneiro que me fez bater. Mas quando sou eu em pauta, me encolho num canto e respiro curto. Covarde.
Isso que “coragem” é a primeira de três palavras que tenho tatuadas nas costas, em kanji.
Tão corajosa e tão covarde. Como pode?
Tenho medo de morrer sufocada com as palavras que eu não digo. Mas tenho mais medo ainda de dizê-las. E só de pensar nelas fica mais fácil fazer dieta, porque meu estômago se encolhe e eu perco a fome.
E eu bem sei que quando finalmente decido o que dizer, sempre adio o “momento certo”. E quando o momento pula no meu colo, parece que um diabinho corta minhas cordas vocais. Fico muda, completamente muda. Não sai um único som da minha boca. Aí a pessoa percebe. O que você tem? Nada, nada não. Só tô cansada. Acho que vou dormir.
Sou a encarnação do Coragem, o Cão Covarde.
Então é conveniente, muito conveniente, toda essa correria. Não preciso pensar. Não dá tempo. É acordar e correr até a hora de dormir. Santa agenda cheia.